[MINI - Kani]

Antes do primeiro canto do galo pela madrugada, o jovem Kani se levantaria, como de praxe. Durante toda a sua vida naquela pequena vila, ele havia se acostumado a acordar antes do sol nascer, quando a escuridão cobria a terra e o frescor da brisa soprava em seu rosto. Como de costume, ele iria até a praia para ver o alvorecer e esperaria mais uma vez aquela vista vislumbrante, para que os raios do sol pudessem aquecer sua pele.

Sua vida até então havia sido simples e dura. Passava os dias observando a fauna marinha na costa das praias pela manhã, e depois ajudava seus pais com os negócios da família. Ele vinha de uma longa linhagem que acreditava ser composta somente de fazendeiros. Não se sabia ao certo se essa suposição estava correta, pois a história de sua genealogia havia se perdido há muito tempo. Mas ele parecia não se importar muito com isso. Sua principal preocupação era continuar com o trabalho árduo da fazenda, plantando do começo da manhã até o anoitecer.

Com o tempo, porém, acabou ficando claro que ele era diferente dos seus progenitores. Sempre que podia escapava para a praia, para observar os caranguejos. A estrutura corporal deles o deixava fascinado, e ele passava horas a fio comparando e desenhando diferentes espécies desses crustáceos. Quando o tempo estava ruim, ele se encontrava dentro de seu quarto folheando pilhas e pilhas de livros. De vez em quando pegavam ele mexendo nas ferramentas do pai, tentando montar alguma bugiganga para aliviar o labor do campo.

Eventualmente, Kani percebeu em si mesmo um desejo incessante em aprimorar suas habilidades e conhecimento. A vida naquela pequena vila parecia pacata demais para ele. Ele não entendia porque tinha de ser assim. Pelo que via em livros e jornais, as ilhas em outros Blues e até mesmo na Grand Line pareciam mais avançadas. E mesmo assim, pareciam existir ilhas iguais às dele, com pouca urbanização ou tecnologia. Isso deixava ele indignado, mas também foi o que trouxe ele a chama da inspiração. Kani Ketam se tornaria um cientista! Uma pessoa que buscaria o conhecimento e mudaria esse mundo para melhor!

No entanto, a jornada era longa. Depois de deixar uma carta à seus pais, ele não iria voltar para arar o campo aquela manhã. Com uma pequena bolsa de Berries e uma mochila, ele sairia para a próxima vila e tentaria arranjar um barco para deixar sua ilha natal. Assim, ele daria o primeiro passo em sua busca de aprimoramento pessoal.

- Adeus pai, mãe... É hora de trilhar meu próprio caminho.

Esperando o nascer do sol, Kani ficaria assustado ao perceber o vermelho escarlate que manchava a lua e os céus na hora que, em teoria, deveria ocorrer o crepúsculo. Ao ouvir o cantar desesperado dos galos, um calafrio desceria pela sua espinha. Ver rostos conhecidos vagando sem expressão deixariam ele ainda mais assustado. Realmente não era o que ele esperava encontrar justo no momento de sua partida. Suas pernas tremeriam ao pensar em como estariam seus pais e amigos no meio daquela cena assombrosa. Vários pensamentos correriam em sua cabeça ao mesmo tempo:

"O que raios está acontecendo aqui? Será que meus pais estão bem? Por que isso teve que acontecer justo agora? Por que o céu ficou vermelho? Aconteceu algo com os animais? Droga..."

Enquanto essa torrente de dúvidas fluía caoticamente dentro de sua mente, o desespero da situação começaria a subir à cabeça do jovem. Nesse momento, ele tentaria se focar no que realmente importava naquele momento: sobreviver. Ele se beliscaria, tentando discernir se aquilo era realidade ou pesadelo. Caso essa realmente fosse a situação, ele buscaria se focar e olharia em volta, procurando algum lugar que julgasse seguro. Se avistasse algo que cumprisse esse critério, ele tentaria se mover com o máximo de furtividade que seu corpo, habilidades e estado mental permitissem. Se chegasse em segurança à um esconderijo, ele tentaria observar os aldeões 'zumbificados' por algum tempo, para ver se poderia descobrir algo. Caso fosse interceptado ou atacado por um deles, Kani seria obrigado a se defender com os punhos cerrados.

O que quer que acontecesse, ele tinha que sobreviver. Ele ainda haveria de conquistar seus sonhos.

Primeiro os habitantes da vila começaram a agir estranho e agora ele estava de frente com um anão de SHOTGUN apontando a arma diretamente para as suas partes baixas. É, realmente não era um dia de sorte para Kani. Nesse momento, ele começaria a considerar que talvez tivesse sido melhor ele ter ficado em casa e esperado outro dia pra partir da ilha. Talvez fosse algum tipo de sinal de Deus. Um sinal bem inusitado e um pouco bizarro, mas ainda assim um sinal. De qualquer forma, ele tinha que se preocupar com a ameaça nanica na sua frente antes de fazer qualquer outra coisa.

- O-opa, amigo! Não atire, não!, diria o jovem, e imediatamente colocaria as mãos pra cima, como havia ordenado o homem de baixa estatura. - Desculpa entrar assim na sua casa do nada e ainda a essa hora... E-eu sou o filho dos fazendeiros da colina! Não sou ladrão, não, senhor! Todo mundo lá fora está agindo estranho, a lua ficou vermelha e aqui era o único lugar seguro POR FAVOR ABAIXA ESSA ARMA EU QUERO VIVER! - Ele acabaria gritando aquela última parte por causa do desespero do momento. Talvez aquele aldeão não reconhecesse o rosto dele como o do menino que saía pra ver caranguejos e nem soubesse algo dos pais dele, mas Kani só esperava que o anão entendesse que ele não tinha intenção de fazer mal e que ABAIXASSE LOGO AQUELA ARMA. Com sorte, ele notaria que Kani tinha o medo estampado em seu rosto e também transparecendo em sua voz agitada.

É claro, tinha a possibilidade do anão não ir com a cara dele ou achar que o garoto estava mentindo. Enquanto estivesse falando, Kani observaria o rosto e as expressões do homenzinho, procurando saber se ele estava tendo uma reação negativa ou positiva diante das palavras do jovem. Ele também procurava alguma brecha, algum sinal de guarda baixa ou distração na linguagem corporal do anão. Fugir estava fora de questão, então caso sua história não fosse convincente o suficiente, ele teria que agir. - ATRÁS DE VOCÊ! - Ele gritaria, apontando pra frente. Se esse truquezinho desse certo, Kani tentaria pegar o cano da arma e girá-la para a direita, em uma tentativa de tirar o próprio corpo da área de tiro e desarmar a ameaça. Se fosse bem sucedido, ele empunharia a shotgun e apontaria para o homem: - Eu falei pra abaixar a arma.  - Ele diria, com as mãos tremendo um pouco.

É claro, isso podia falhar também. Independente do rumo que a conversa tomasse, ele não pretendia machucar aquela pessoa. Ao invés disso, ele tentaria juntar informações: - Qual o seu nome? Sabe de algo sobre o que está acontecendo lá fora?

Por um momento, Kani não podia acreditar que aquele truque bobo tinha dado certo. O desespero daquela hora devia ter ajudado na atuação. Era isso ou o anão não era tão inteligente assim. De qualquer forma, agora ele estava bem, pelo menos por enquanto. Sentindo um pouco o peso da arma e olhando ela meio superficialmente, o garoto conseguiu perceber que a espingarda não tinha munição nenhuma, o que fez ele se questionar sobre aquele homem baixinho de novo. Se era um blefe ou não, não fazia muita diferença, já que mesmo empunhando a arma, ele provavelmente não conseguiria usá-la tão bem a princípio. Seu pai nunca havia lhe treinado para usar uma arma, nem ao menos deixado ele desmontar uma. Tudo o que ele tinha como base eram poucas memórias de ver seu pai afugentando predadores pra longe dos animais da fazenda. Ele continuaria segurando a arma até encontrar algum lugar adequado para colocá-la.

Ele seguiria Steve para a sala de estar da casa, e se sentaria em um dos sofás, apoiando a shotgun ao lado do apoio para os braços. Ele acabaria se divertindo um pouco com a dificuldade do pequenino para subir nos móveis. Mas apesar de ser cômico (e um pouco errado), isso fez Kani pensar. - Será que ele mora com mais alguém? Os móveis não parecem ser adaptados para o tamanho dele. Ele é um anão ou uma criança com boca suja? - Ele guardaria esses pensamentos para si mesmo por enquanto. Talvez perguntas muito pessoais irritassem aquele pestinha já muito irritadiço. - Meu nome é Steve e eu não sei de caralho nenhuma que está acontecendo, tá certo ? - Uma introdução bem ríspida, que o menino dos caranguejos responderia tentando ser gentil. - Meu nome é Kani. Kani Ketam. Talvez tenha ouvido falar na nossa fazenda na colina. Minha família esteve lá por gerações. - Ele explicaria, tentando provar suas alegações anteriores para mostrar que era confiável.

- Só sei que apareceu uns cara maluco ai gritando que era um cientista… Deu um bagulho maluco pra alguem lá no beco e deu nessa merda - O aspirante a cientista mostraria uma expressão de curiosidade infantil misturada com perplexidade. - Um cientista? - Ele diria com um tom levemente animado. Até onde ele sabia, não haviam tantos cientistas naquela vila. O homem a quem Steve se referia provavelmente era algum traficante de drogas, mas havia a leve possibilidade de ser realmente um estudioso da área. - Olhe aqui, sei que o Mundo ta uma merda, mas não seja mordido por esses malditos, entendeu ? Vi gente se transformar em um deles após isso, na dúvida, bate na cabeça que dá certo. É isso, acabou. - Essa informação soou valiosa para o pesquisador amador. - Mordidas, huh? talvez o que ele tenha dado seja algum tipo de patógeno similar ao da raiva. Isso explicaria o modo de transmissão desse estado... - Diria ele com um tom concentrado e mais firme, pouco parecendo o menino com medo de antes.

O jovem se levantaria, deixando a espingarda no lugar e saindo daquele cômodo à procura do banheiro ou de alguma estante onde pudessem haver remédios. - Senhor... Er... Senhorzinho? Não importa. Steve, você tem algum remédio antibiótico ou antiviral por aí? Não sou médico, mas acho que isso poderia ajudar se a causa for o que estou pensando. - Ele também vasculharia a casa em busca de alguma coisa que cobrisse as partes expostas da sua pele. Procuraria por algum casaco, luvas, faixas, ou até algum tipo de armadura se achasse. Ele também precisaria de algum tipo de arma que não fosse aquela espingarda vazia, preferivelmente algo que pudesse usar para socar. Considerando o temperamento do dono da casa, ele possivelmente poderia ter um soco inglês ou algo do gênero. - Perdão pela intromissão, mas eu estou bolando algo. - Ele diria, já pensando que o anão (ou criança bem estranha) iria começar a reclamar.

- Eu tenho um plano. Vou sair e tentar pegar um barco para avisar a base Marinha mais próxima do que está acontecendo aqui. Esse 'cientista' que você mencionou provavelmente fugiu, se escondeu ou se juntou à horda, mas se encontrá-lo, vou tentar falar com o sujeito. - Ele explicaria seu plano e tentaria se armar com o que houvesse na casa. Se houvessem remédios ou alguma substância que pudesse ser útil, ele passaria na pele e por cima da roupa, como uma proteção leve contra o que quer que estivesse contaminando a todos. Se não, ele tentaria colocar mais camadas de roupa, algum travesseiro ou lençóis em volta dos membros para se proteger. Talvez o anão fosse contra tudo isso, e nesse caso ele argumentaria: - Se não me ajudar, vou ter que ficar aqui com você. E aí é questão de tempo até a comida acabar ou sermos mordidos. Se quiser, venha comigo e vai ter mais chances de sobreviver, eu acredito.

Se tudo desse certo, ele olharia através da janela e esperaria até alguns zumbis terem passado para finalmente abrir a porta e sair correndo. Da casa, ele tentaria traçar uma rota até a costa, e se tivesse sorte, acharia algum barco. Se Steve o acompanhasse, ele tentaria carregar ou puxar o indivíduo, dada a sua estatura não dar a impressão de velocidade. E é claro, se algum zumbi o atacasse, ele teria de se esquivar e fugir ou lutar o mais rápido possível. Agora, era questão de sobrevivência.